Cena de Despertar da Primavera recriada pelo Criô na Casa da Ribeira em 4 de agosto de 2024 | Foto: Brunno Martins
24/10/2024 | Por Marlos Ápyus

Eu e a música

A morte do meu pai é, com folga, o episódio mais traumático da minha vida. Quis o destino que, aos 9 anos de idade, eu estivesse ao lado quando um AVC o fez sofrer fortes convulsões. E que coubesse a mim e à caçula corrermos pela vizinhança atrás de um socorro que de pouco adiantaria. Entre o derrame e a notícia da morte, passaram-se 5 dias de poucas novidades. Exceto pelo “Marina, morena Marina, você se pintou” que ouviram nos corredores do hospital pouco antes do coma profundo. Assumimos que, num momento daqueles, a opção por cantar seria um sinal de que ele estava e ficaria bem. Não imaginávamos que, na verdade, alucinava, algo que só nos seria esclarecido após a constatação do óbito. Ainda assim, gosto de acreditar que o melhor pai do mundo morreu reprisando o que fazia nos momentos de maior felicidade. E justo com uma de suas canções preferidas. Quantos podem se dar a esse luxo?

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