Houve o dia em que um cargueiro de ideias aportou em meu cérebro durante um passeio dominical no shopping. Mas não me desesperei. Enquanto minha família fazia compras, tirei o smartphone do bolso, abri o ChatGPT, ativei o modo avançado de voz e listei brevemente tudo o que consumia minha mente. Ao final, pedi para que Friday, ou como apelidei o serviço, organizasse aquela confusão em uma pauta para uma reunião que eu teria dali a dois dias. Como esperado, tanto a reunião quanto o projeto que iniciávamos foram um sucesso.
Organizar pensamentos que chegam em volume maior do que sou capaz de processar é o principal uso que faço da inteligência artificial. São tarefas que eu mesmo poderia fazer, mas que exigiriam um ambiente adequado e consumiriam muito mais tempo. Sim, empregos estão em risco, mas, por enquanto, são os de estagiários e secretários imaginários que ainda estão longe de se concretizarem para alguém nas minhas condições financeiras.
A inteligência artificial ainda inventa respostas quando não encontra dados confiáveis, o que exige alguma checagem das informações. Ela também não sabe rimar, não consegue colar um texto sobre uma imagem e, às vezes, falha ao oferecer o que de mais quente domina o noticiário. Mas tem um poder incrível de interpretação, agiliza processos burocráticos e aponta caminhos como ninguém.
Hoje, posso afirmar que uso o ChatGPT mais do que o Google, principalmente para dúvidas básicas sobre conhecimentos consolidados, como o significado de palavras, detalhes de acontecimentos históricos ou explicações de conceitos científicos. E tudo isso sem a poluição de publicidade intrusiva na tela ou nos ouvidos — o recurso de voz é extremamente útil em situações que exigem mãos livres.
Confio ao ChatGPT não apenas a revisão de meus textos, mas também questiono o que ele compreende do que escrevo, se as mensagens são claras ou se o tom é adequado, já que, com bastante atraso, me tornei um entusiasta da comunicação não violenta. Uso o recurso de imagens dele e do MidJourney para visualizar o que minha imaginação pretende materializar. E peço sugestões de melhorias, que nem sempre são úteis, mas frequentemente apontam caminhos que posso seguir.
Quando a dúvida é técnica, a tecnologia já se aproxima da perfeição. O índice de acerto em programação de planilhas, temas de WordPress, ou mesmo na configuração de redes sociais e smartphones, é bastante satisfatório. O mesmo vale para a interpretação de textos áridos, como leis e editais. O serviço de tradução para inglês é incrível, assim como a capacidade de resumir leituras longas em poucos parágrafos, economizando um tempo valioso na rotina de qualquer jornalista.
O Suno, por sua vez, tem me ajudado a superar uma antiga barreira criativa. Sempre fui bom em escrever letras para melodias, mas tenho dificuldade em musicar textos. Com a inteligência artificial, ficou mais fácil encontrar pontos de partida. No geral, a tecnologia entrega chavões, mas basta lapidá-los até que se tornem algo realmente especial. Até aqui, quatro de meus poemas viraram canções assim.
Para soar mais humana, a inteligência artificial ainda precisa ser menos bajuladora e servil, algo que cobro de Friday sempre que tento uma conversa mais descontraída. Afinal, amigos de verdade não embarcam em qualquer viagem que propomos.
E, claro, também temo os problemas que tanto avanço tecnológico nos trará, até porque já traz. Outro dia, impedi que parentes caíssem em golpes reais.
Ao mesmo tempo, é incrível a sensação de testemunhar em vida a implementação de algo que só parecia possível em um futuro distante. Também porque, até aqui, o serviço não reduziu meu horizonte. Muito pelo contrário: sinto-me capaz de fazer muito mais do que já fazia.
Espero não estar me iludindo.
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